Como terapeuta de casal, considero um ótimo sinal quando os parceiros são capazes de detectar que a área sexual não está satisfatória e conseguem conversar sobre as questões que envolvem a sexualidade de cada um e do casal. De um modo geral, as queixas do casal permeiam diferentes questões como dinheiro, tempo, atenção, diferenças individuais. A sexualidade, quando citada, acaba ocupando um espaço limitado, sem tanta importância. Entre os inúmeros fatores relacionados que podem explicar a razão dessa área do relacionamento ser negligenciada, está a ideia improvável que para ter uma vida sexual viva e criativa é necessário focar e resolver os percalços da vida do casal, pois sempre haverá fatores perturbadores que podem desvitalizar o erotismo e a sexualidade do casal. Alguns exemplos de situações que podem afetar a qualidade da vida sexual do casal: uma vida atribulada com os parceiros exaustos, que não encontram tempo de qualidade para estar juntos e criar um clima de intimidade; crises existencial, profissional e financeira; morte e adoecimento de pessoas queridas, conflitos com as famílias de origem, desempenho da paternidade em suas diferentes demandas: filhos pequenos, adolescentes, lançando os filhos adultos, etc.

Tudo isso pode desaminar o casal, deixando o sem alma, sem o mistério do amor erótico. Como enfatiza o psicólogo suíço Carl Gustav Jung, Eros traz a beleza, mas não pode ser reduzido ou confundido com atos físicos, mecânicos, vazios de sentidos.

Quando um casal deixa-se envolver demasiadamente com as demandas sociais, sua vida sexual torne-se empobrecida, monótona, distante, ou em muitos casos quase inexistente. Não há mais o prazer sexual, apesar dos parceiros sentirem afeto e cumplicidade no relacionamento, desse modo, eles deixam de ser casal e tornam-se “bons” irmãos e companheiros. Por exemplo: a mulher que se identifica com o papel de mãe/cuidadora e deixa de ser também a mulher/amante.

A relação sexual reporta à experiência da unidade, consigo mesmo e com o outro. Logo, o desafio do casal é constelar uma força, um movimento heroico, de modo a investir e revitalizar seu relacionamento sexual com amor, erotismo e sensualidade.

É preciso ter em mente que um relacionamento duradouro, pede diálogo aberto, sincero, empático e respeitoso, sempre que for necessário para um ou os dois parceiros. Quando o casal desenvolve intimidade e liberdade, cria-se um espaço seguro, livre de julgamento, de criticas, auto sabotagem, recalques, desconfianças e recriminações, permitindo que ambos possam falar de temas como fantasias, desejos, preferencias, curiosidades, sexuais; sentimentos de medos, vergonha e dificuldades.

Pede também renovação constante daquilo que foi acordado, explicita ou implicitamente, entre os parceiros, pois as pessoas mudam, o casal muda e os arranjos se transformam. Cabe a cada casal criar, revigorar e renovar sua sexualidade, descobrindo e propondo novos jeitos de caricias, acolhendo seu próprio corpo e o corpo do outro, conversando antes durante e depois da atividade sexual, trocando experiências e insights.

Jung, no livro Memórias, Sonhos e Reflexões, escreve que nunca foi capaz de explicar o mistério do amor, apesar de ter se deparado com ele inúmeras vezes em sua vida. Logo, considerando toda complexidade da relação afetiva, realço a importância de cada parceiro cuidar com atenção e maturidade de sua vida sexual investindo tempo e criatividade.

Maria Silvia Pessoa
Psicóloga