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No âmbito do amor romântico encontra-se a tentativa de alcançar a plenitude, o sentido para a vida e o êxtase. Projetamos no outro o que buscamos em nós mesmos. A esperança e a procura do amor é abundantemente exercitada/ abordada, até mesmo mais do que  a religião, por exemplo.

A história A Bela e a Fera foi originada de um tradicional conto de fadas francês. Escrito em 1740, tornou-se mais conhecido em outras versões. Modificado e adaptado possui atualmente diversas versões diferentes que se adaptam a diferentes culturas e momentos sociais.

Bela, (coloco parênteses somente para lembrar que é atuada pela atriz Emma Watson, figura importante para as feministas que entre suas atividades é embaixadora da ONU Mulheres) foi criada pelo pai, vivenciando a perda e o luto da mãe desde pequena.

O filme é iniciado mostrando a imagem carregada de estereótipos e preconceitos que Bela tem em sua vila. Seu pai, não escapa do estigma da sociedade.

            No processo de atualização do conto, vemos que:

– Bela não era desesperada para namorar ou casar… Pelo contrário, negou Gastão diversas vezes mesmo quando parecia precisar dele. Ela, muito corajosa, foi atrás do pai quando este estava aprisionado- sem precisar de companhia.

– Quem precisava de um amor verdadeiro era a Fera. Não porque ele quisesse, mas porque a feiticeira quis assim.

– A rosa- metaforicamente – o relógio “biológico” ou a pressa, o tempo cronológico, que para ocorre- dessa vez não trata do feminino, mas sim do homem, do principio masculino. Aqui, novamente não porque a Natureza assim o fez, mas porque , por meio do feitiço, o destino se impôs

            Desta vez, o conto de fadas não enfatiza a historia de uma mulher com um feminino subdesenvolvido, portanto, não só da Bela, mas também da Fera. Ela, após o feitiço, passou a negar e evitar qualquer tipo de contato e afeto, mesmo com seus funcionários, tornando-se assim fera de fato.

            Em A Chave da Psicologia no Amor Romântico, Johson, R. (1987)

afirma:

“O amor do self é a busca empreendida pelo ego para encontrar as “pessoas” do mundo interior, que se ocultam dentro de nós; é a falta que o ego sente das vastas dimensões do inconsciente, sua disposição em abrir-se para as outras partes do nosso ser total e para seus pontos de vista, seus valores e suas necessidades.”

Nesse sentido, Bela, entre outras coisas, precisava de um motivo que a tirasse da habitual vida na pequena vila onde cresceu e morou até então. A Fera, por sua vez, precisava de alguém que enxergasse o homem que existia por trás do rosto de lobo e que o amasse como era.

Johson, R. (1987) aborda o amor romântico e o amor humano. Para ele, o amor humano é passível de erros, de construção e de aprendizagem, enquanto o amor romântico erra no fato de nos amarmos da maneira errada, construindo a relação baseada na projeção. Não conseguimos perceber a realidade que de fato procuramos que é o nosso self. Ao contrário, buscamos o que precisamos (inconscientemente) nas outras pessoas por meio das projeções românticas. Ele encerra o livro afirmando:

“Podemos aprender que a essência do amor não é usar o outro para a nossa felicidade, mas sim servir e encorajar a pessoa a quem amamos a ser um individuo único. Só assim, poderemos descobrir- para nossa surpresa – que o que mais necessitamos não é tanto sermos amados, mas sim amar.”

            Bela, não estava procurando por um amor e mesmo feita prisioneira, amou a Fera. A Fera, com padrão de apego evitativo inicialmente, foi liberando seus sentimentos e emoções, curtindo a companhia e o que este encontro proporcionava. Os dois se permitiram amar. Bela deixou de ser prisioneira e mesmo assim não quis fugir. No momento em que seu pai se encontra em perigo a Fera, agora mais ou menos segura de si, deixa ela ir. Quando digo mais ou menos me refiro aos momentos de insegurança ou dúvida de que ela voltaria.

            Lembramos aqui um fator importante da antiga história de Eros e Psiquê:  “O amor não pode conviver com a suspeita…”. E foi por isso que a Fera libertou a Bela, que ao retornar à prisão quebra o feitiço. Ao amar de maneira humana e não romântica, houve a possiblidade de transformação para ambos. Foi ao se conhecerem que se amaram, percebendo as fraquezas, não para criticar ,mas para ajudar e desfrutar da companhia do outro.

Gabriella Costa Pessoa- Psicóloga Clínica.